O Vazio

 

 

Mundo de ausência. De silêncio. Tudo o que escondemos dentro de nós acumula-se ali, num espaço fora do espaço, num nada cheio de tudo. Sentimentos. Emoções. Vergonhas. Dores e falhanços. Lembranças amargas que não existem fisicamente, mas que pesam… aí se pesam!

O vazio assemelha-se à um amontoado de carvão numa noite sem lua. Não tem cor, nem cheiro. É escuridão ascetizada. Mas quando olho melhor para ele, (sim, talvez, até com carinho?) distingo vultos. Como umas bolas gigantes de papel amarrotado.

Há cinzento por toda a parte, um cinzento uniforme, espesso e pesado. Agora surgem outras tonalidades, cinzentos escuros como o breu, outros leves como o ar, quase transparentes. Concentro-me. Nas zonas mais claras, algo diferente. Uma claridade nublada. Tal uma nuvem branca de algodão ocultando o sol de inverno.

Mais um passo.

Luz brilhante. Ofuscante. Dor.

Pestanejo. Deixo os meus olhos adaptarem-se.

Variações de azuis, verdes, laranjas e amarelos. Roxos e vermelhos. Cores vividas. Vibrantes.

Encaro o cenário. Tanto movimento e energia. Tanto pormenor. Não consigo acompanhar. Faço um esforço de concentração e um relâmpago estoira na minha cabeça.

Isto, à minha frente, será…

…vida ?

 

Lylise